terça-feira, 12 novembro, 2024

Dona Chica

Dona Chica

Lá se vai dona Chica com seu olhar profundo . No leito em que está estendida sob cuidados . Lá se vai pelos campos deixando a porta entreaberta para o Outro Mundo …

Guardiã da Lembrança de um Tempo quando éramos jovens …

Dona Chica dos sonhos , de ternos latidos , e tez branca …

Sempre leal a seu Dono , que retribui nessa hora , com zelo , o amor dedicado de uma vida …

Ela está imóvel , e nós a carregamos , para um banho de sol , e talvez não seja necessário … Pois o corpo é um vaso muito frágil , e cada sopro é uma dádiva arfante …

Ela permanece atenta ao Instante , que parece com a Eternidade …

E nos momentos que precedem o desenlace , e ficamos a beira do porto acenando , e as ondas marulham e lambem finas areias de ouro … Nós vemos com esses olhos Dona Chica no Altar dos Santos , e a vela que ilumina a noite …

Correm as lágrimas na face , não há dor e o pranto é melancolia que se esgota …

São os Estertores que importam , os entes queridos que se transformam numa gota incessante …

Lá se vai Dona Chica em seu barco , cuja luz com a névoa se confunde …

E nós nos acostumamos a despedida como tantas outras coisas que ocorrem , porque seguimos na mesma direção desconhecida …

E é neste ponto que ressoa a pergunta que fazemos sem resposta:

  • Dona Chica , para onde ?
    Canta um pássaro sereno num galho distante , uma folha balança pelo vento …
    Ainda sim é hoje , não é amanhã , ou ontem…
    Dona Chica ao nosso lado é um prodígio que poucos notam , e não dão a verdadeira importância …
    Será assim com os bichos e com os homens…
    Mas nós ficamos sentidos com esta lonjura tão perto , que nos tira a presença daqueles que amamos , e nos confere o preparo para o encontro…
    Com o que não sabemos , mas supomos…
    Que seja de Gloria e Alento a Memória deste dias…
Flavio Fucs
Flavio Fucs
"Poeta sou cumpro meu Fado . Como o dum santo ou dum louco . Só posso dar demais ou muito pouco . Que é tudo quando tenho ." José Régio
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