sábado, 27 julho, 2024

Essa terra, toda ladeira que existe aqui no Vale do Capão, eu piso. Todo mundo pisa! (Baianinho)

Nós é com nós!

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Nós é com nós!

Essa terra, toda ladeira que existe aqui no Vale do Capão, eu piso. Todo mundo pisa! (Baianinho)

Sou moradora do bairro de Seu João, Vale do Capão, e junto com Silvana et Doris, duas amigas que também são vizinhas, nós mobilizamos e convidamos a nossa comunidade para realizar uma obra de melhorias do acesso a esse bairro, que é passagem para o Bomba. Essa iniciativa surgiu no contexto de uma piora das estradas do vale com as chuvas e o abandono dos poderes públicos. A ladeira e arredores da Rua do Lajedo tinham chegado a um ponto crítico por conta da falta de manutenção, esse trecho ficando completamente intransitável e perigoso para passar de carro, moto, bicicleta e até a pé.  Presenciamos alguns acidentes e nos preocupamos com a situação de risco para a comunidade.

Resolvi aqui relatar a nossa experiência, os acertos e os erros, conquistas e frustrações, pois talvez possa ajudar outras pessoas engajadas em iniciativas semelhantes. Foram 20 dias de trabalho e de aprendizados sobre temas técnicos, políticos, éticos e de cidadania.

Começamos por uma campanha de arrecadação de fundos, uma “vaquinha” para custear a obra, mobilizando a comunidade, moradores, comerciantes e empresários. Também consultamos nossos vizinhos já experientes para compreender como efetuar o serviço de maneira mais duradoura. Quais materiais e estratégias práticas para essa ação? Consertar canos furados, cavar, desobstruir as valas, jogar entulho nos buracos e cobrir com rejeito de brita.

Com a vakinha recebendo colaborações, parecia que bastaria concretizar esse roteiro e abraçamos a causa com muita dedicação. De fato, foi muito mais desafiador e demorado do que pensávamos, três semanas buscando “o caminho das pedras”, literalmente!  E nesse caminho recebemos muitas promessas de máquina, caçamba e material que não se cumpriram.  Enredamos em falsas pistas, enfrentamos inúmeros entraves além do preconceito para com a liderança de mulheres.  Também, percebemos que quando se fala de “comunidade”, é preciso pensar e contornar embates entre diferentes papéis sociais exercidos nesse pequeno mundo do Vale do Capão: empresários, políticos, parentes, vizinhos, nativos e forasteiros.

Mas perseveramos e tivemos ajuda. A comunidade, mesmo heterogênea e por vezes dividida apoiou. A “vaquinha” contou com 27 colaborações e na fase de trabalho inicial das valas, organizou-se um mutirão super eficiente com orientação de moradores que já vêm executando essa manutenção anos a fio.

Nesse decorrer, aprendemos muito e enfrentamos dificuldades, agravadas pelos feriados de Natal e réveillon. Vale lembrar que nesse período, a disponibilidade da mão de obra, mesmo paga, fica muito reduzida. De fato, só conseguimos finalizar esse projeto, que só pretendia arrumar um pequeno trecho bastante problemático da estrada, agora no dia 13/01.

Nosso trabalho de campo se encerrou, e para finalizar, informo que compartilharemos nas redes sociais do Vale a prestação de contas para garantir a transparência desse processo.  De brinde, ofereço para vocês, um pequeno dicionário, guia prático, dos principais elementos para realização de uma obra de recuperação de estradas aqui no Vale. São apenas os pontos que ficaram em destaque em nossa vivência, aqueles que geraram dúvidas, surpresa ou reflexão.

CAÇAMBA: Cuidado! Quando fala em caçamba ou ainda caçambão, pode ser o veículo, a carga ou o conjunto. Além do que, você descobrir o valor de uma caçamba de rejeito de brita é uma façanha. Conseguir fazer chegar o material até o Capão foi a maior dificuldade de todo esse processo, só depois de mais de duas semanas e muitas voltas e obstáculos incompreensíveis (como a notícia de que um fornecedor não mandaria porque “haviam pessoas falando mal do Prefeito!”), a brita acabou chegando no local.

COLABORAÇÃO: Agradecemos a todas e todos – empresas e pessoas, que colaboraram com dinheiro, trabalho, orientações, reconhecimento para esse projeto que trouxe mais conforto e segurança para localidade. Juntas e juntos mostramos que podemos resolver problemas da comunidade abandonada pelo Poder Público. Não se trata de substituir os “eleitos” mas sim, de responder a situações emergenciais pelo bem comum.

MULHER: Não deixamos de ouvir comentários preconceituosos e até de sofrer boicotes. Exemplos: “cabeça de mulher não entende dessas coisas”; “tem que ser um homem na frente”; “a mulher não tem força para pegar uma marreta ou um carrinho de mão cheio de entulho”… sem contar alguns olhares de reprovação quando pegamos no pesado.  Mas foram mulheres que lideraram o projeto. Isso é fato. Soubemos de iniciativas semelhantes realizadas por mulheres em outros locais do Capão, como o caso de Marta na rua Dona Áurea, nos Gatos. Assunto para pensar…mulheres se preocupam com o coletivo e mostram garra e perseverança na realização de projetos coletivos.

PROMESSAS: Cuidado. É o que mais tem e vem de todo lado. Recebemos dezenas de mensagens WhatsApp e até 6 promessas de doações:  “Vou conseguir uma, duas, três caçambas (!), máquina, mão de obra, entulho … com Fulano ou Ciclano (político e/ou empresário) ”. Você viu? Nem eu…. Passamos horas subindo e descendo ladeiras no aguardo e só houve de fato uma empresa que se mobilizou para ajudar. Foram situações deveras desgastantes, porém esclarecedoras sobre a cultura política clientelista do Capão.

Quem passa hoje pelo trecho pode circular com segurança. Claro, não se pode perder de vista que a situação geral das estradas do Vale requer intervenção muito maior dos responsáveis institucionais, ou seja, que o buraco (o verdadeiro buraco) é mais embaixo! No entanto, esse pequeno exercício da cidadania é importante no sentido de mobilizar a união e solidariedade entre moradores e reacender dinâmicas de colaboração que outrora foram o cimento da comunidade.

Moral da história: Nós é com nós!

Autora: Christine Zonzon

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5 COMENTÁRIOS

  1. Mulher se molha! Arregaça as mangas e cai no cangaço… incentiva os vizinhos e as vizinhas.
    O importante não é ser contra nem por…mais entender que masculino e feminino são duas forças que se atraem para crescer.,para compartilhar et aprender.
    Por isso a terceira força ou o centro que é equilíbrio mora no ☀️ sol e todos os seres da terra se encontra no caminho do meio que é a coluna central !
    O amor coletivo et fraterno é a semente que está comunidade semeia, o resultado é pedra por pedra, 1,2,3..mulheres 2 homens, 5 crianças é na ação que nasce a intenção justa.
    Uma gota daqui -dali a estrada foi tapada até a próxima ☔️
    Viva à comunidade e viva vocês moradores e moradores do vale do capão,
    Esse artigo é bacana…

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