Perigosa na descida, desgastante na subida. Assim era a experiência do trecho final da trilha do Rio Preto. Era. Finalizado esta semana, o novo traçado em zigue-zigue aumentou o percurso em quase 600 metros. Em compensação, a inclinação foi reduzida bruscamente, tornando a experiência do visitante mais segura e menos cansativa.
“A antiga ladeira tinha uma inclinação média de 23%, mas havia trechos com declividades assombrosas, sendo a máxima de 48%. A nova descida tem inclinação média de 8,2%, sendo que a máxima é de 12%”, explicou o analista ambiental do Parque Nacional da Chapada Diamantina Pablo Casella, que coordenou o trabalho realizado pelos brigadistas do ICM-Bio.
Segundo Casella, a literatura internacional sobre o assunto indica a implantação de escadarias em trilhas com declividade igual ou superior a 18% a fim de cessar os impactos ambientais negativos que provoca, em especial pela perda de solo para a erosão, o que acarreta em exposição de raízes e eventualmente a morte de árvores e o assoreamento do rio.
Esta solução, no entanto, foi descartada para o Rio Preto porque embora ambientalmente correta, prejudicaria outras duas dimensões que norteiam o trabalho de requalificação das trilhas: o gerencial, relativo aos custos e mão-de-obra para manutenção, e o experiencial, que diz respeito à qualidade da visitação.
Mais suave, a nova trilha em zigue-zague permite que o visitante concentre sua atenção nas belezas naturais do lugar e não apenas nos riscos de queda na descida ou no esforço físico exigido na subida. “Uma boa trilha deve ser imperceptível, não pode atrapalhar o serviço que a natureza faz de elevar, emocionar e envolver. Se o visitante tem que ficar olhando pro chão o tempo todo pra não cair e não se machucar, isso interfere na apreciação da paisagem natural”, observa.
As intervenções feitas no trecho final aumentaram a extensão total da trilha do Rio Preto para pouco mais de três quilômetros. O trecho final de declividade passou de 257 metros para 844 metros, ou seja, mais de três vezes maior que anterior. “Isso é inescapável nesse tipo de intervenção”, diz Pablo. Ele próprio já levou este questionamento adiante, em um curso sobre o assunto no exterior, até ouvir do palestrante que aumentar a trilha era benéfico, porque proporcionava mais tempo de experiência com a natureza para o visitante. “Naquele momento eu me dei conta que a meta última do nosso trabalho é exatamente esta mesma. Quando a gente acha que a trilha é apenas o que nos separa do destino estamos negligenciando o caminho, desperdiçando o remédio. Caminhar na natureza é parte significativa da cura, daquilo que se chama de a prescrição verde, o banho de floresta”, completa.
A velha trilha com seu enorme despenhadeiro ficou no passado. A nova, no entanto, preserva ainda uma das principais características: se não mais para os pulmões, mas ainda para a vista, ir para o Rio Preto continua sendo uma experiência de tirar o fôlego.