Os alunos do Colégio Estadual Nilde Xavier que moram no distrito de Campos de São João foram proibidos pelos seus pais e mães de irem à escola, que fica em Palmeiras. A medida tomada nesta sexta-feira foi um protesto organizado contra as péssimas condições dos carros alugados pela Prefeitura para fazer o transporte escolar no trecho de 28km que separa o povoado da sede do município.
Em um dos vídeos que o Portal Vale do Capão teve acesso, um dos pais se coloca em frente às vans que estão prontas para dar a partida antes de emitir a ordem: “Não deixa passar, não.” Ele se dirige a um dos motorista e desafia. “Quer passar por cima, passa!” Em seguida uma mulher diz que eles estão lutando pelo direito de todos. Na sequência aparece outro homem dizendo que as vans estão carregadas. “Vai aluno deitado, aluno sentado, vai aluno de todo jeito aí”, reclama.
O protesto foi motivado pela quebra de um dos veículos, na tarde de ontem, na volta para casa. Os alunos ficaram mais de meia hora parados na beira da BR-242. “Minha filha sai 17h20 da aula e só chegou em casa ontem depois das 19h, com uma dor de cabeça terrível porque mesmo depois de darem um jeito no motor o carro continua esfumaçando, a fumaça vai pra dentro da cabine e os alunos são obrigados a inalar aquele cheiro durante toda a viagem”, denuncia Genilson Souza Oliveira, pai de um casal de alunos do Nilde Xavier.
Segundo Genilson, um dos carros que tem 10 assentos leva até 17 alunos, alguns em pé, outros sentados no assoalho. E mesmo os que vão sentados nos bancos, não dispõem de cintos de segurança. Ainda segundo Genilson, a escola foi alertada para os problemas, mas nenhuma providência foi tomada.
O Nilde Xavier é um colégio da rede estadual voltado para estudantes do ensino médio, mas a responsabilidade pelo transporte escolar é da Prefeitura. Segundo a diretora Yara Pereira Gonçalves, a Secretaria Municipal de Educação já havia sido comunicada oficialmente três vezes dos problemas de transporte escolar nas localidades de Campos de São João e Casas Velhas, por meio dos ofícios 46/22, de 21 de fevereiro, 58/22, de 17 de maio, e 69/22, de 1o de junho.
“Pessoalmente estive semanalmente na Secretaria de Educação. E hoje irei participar de uma reunião às 14h novamente com a secretária Albani Sales”, declarou a diretora. Contatada pela reportagem, a secretária não atendeu às ligações nem respondeu às mensagens deixadas pelo whatsapp. Ainda segundo a diretora, a prefeitura estaria alegando que “devido ao incêndio ocorrido no ônibus do Capão (autoria envolvendo um aluno do ensino médio/ confesso responsável), teve que remanejar o ônibus”.
Segundo o vereador Giba (PT), que participou do protesto, a informação não procede. “O ônibus que está sendo usado pelos alunos do Capão neste momento foi remanejado dos povoados de Rio Grande e Conceição dos Gatos”, contestou. Os pais e mães de Campos de São João também alegam que o ônibus amarelo que transportava os alunos da localidade foi desativado pela Prefeitura antes da pandemia por falta de pagamento das taxas de licenciamento e IPVA. “Eles encostaram esse ônibus com medo da PRF e ele está parado em Palmeiras. Agora só sobraram essas latas velhas”, disse uma mãe, que preferiu não se identificar.
Campos de São João é um dos mais afastados povoados de Palmeiras. Fica próximo a um dos cartões postais da cidade e de toda a Chapada Diamantina, o Morro do Pai Inácio. Mesmo assim está longe de ser a única localidade a apresentar problemas sérios com transporte escolar. Em março, uma van que levava alunos dos povoados de Corcovado e Julião capotou na estrada de 12km que dá acesso à sede do município. O motorista alegou que o carro não tinha freios. Felizmente, ninguém se feriu gravemente.
Até mesmo o Vale do Capão, que teve um ônibus reposto após o incêndio provocado por dois estudantes, quase registrou uma tragédia recentemente. “Boa noite. Eu fiquei bem assustada hoje na volta para casa. O carro preto que leva as crianças até o Bomba, estava com crianças no porta mala e a porta abriu!”, relatou uma mãe no grupo de whatsapp dos pais de alunos da escola municipal de Caeté-Açu. Imediatamente após o ocorrido, o carro preto foi proibido pela direção da escola de transportar qualquer aluno entre as localidades do Bomba e da ponte do Doce Mel.
O protesto iniciado nesta sexta, deve prosseguir na segunda-feira, na Câmara de Vereadores. “Ficou acordado de na próxima segunda-feira se reunir uma quantidade de pais e mães de levar uma representação na Câmara municipal. Vamos reportar também à Teo Tur a inviabilidade de se continuar nessa situação do jeito que está”, declarou Giba, referindo-se à empresa, que seria a proprietária dos veículos de transporte escolar complementar da Prefeitura de Palmeiras.
Na véspera do protesto, Giba havia postado nas redes sociais uma foto de um ônibus escolar pertencente à Prefeitura de Palmeiras que está retido há dois anos em um pátio alugado pelo Polícia Rodoviária Federal em Seabra. “Esse é o compromisso da Prefeitura Municipal de Palmeiras com a Educação do município. São 183 diárias + 1 recolhimento totalizando mais de 40 mil reais!! Fora multa da Polícia Rodoviária Federal. Governo da desconstrução!!”, disparou o vereador, ironizando o slogan da atual gestão municipal.