sábado, 7 dezembro, 2024

Baba

Baba

Ele é Baba , que na Índia quer dizer ” Pai ” , mas veio direto do Texas para o Capão.

Seus cabelos loiros reluzentes foram a primeira coisa que mirei a distância num Domingo de Novembro .

Chovia como o prenúncio de boas novas .

Era úmido e a terra exalava júbilo .

E eu vim de casa passando pela ” Lagoa ” e na subida da colina vi seu vulto que se destacava .

Senti estranheza pois estava descalço caminhando na lama , seu torso seminu coberto por um pano , os olhos verdes de uma vivacidade exótica .

Passei de carro e não tive tempo de parar , como aqueles momentos que são incríveis mas que não damos atenção .

E fui para feira comprar mantimentos .

Legumes e frutas , as bancas cheias . Robinho do Queijo , Zeni com seu Couve , Teté e o aipim manteiga tirado na hora .

Artesãos diversos , bolsas de couro e aplicadores de rapé .

Armando Roberto tomando um caldo de cana , seu Gilson vendendo pão de queijo .

Uma festa de aromas e cores que revela prosperidade e exuberância !
Que é marca registrada deste povo , conhecido por receber a todos e acolher os transeuntes .

Desta feita , como num passe de mágica , estava Baba no meio da feira . Mas todos pareciam ignorá-lo , pois sozinho no meio da plebe , ninguém o notava.

Novamente achei estranho .

Era uma figura insólita , dessas que não se acham por aí , e talvez em outro distrito fosse a atração maior desse encontro .

Porque era estrangeiro ( da terra do tio Sam ), crestado pelo sol e pelas intempéries , coberto por uma canga apenas , cabelos longos , olhos verdes , ainda jovem , cuja expressão era de candura serena !

O que fazia ali este Tipo que peregrinava descalso e alerta ?

Que sorria para o Firmamento com desenvoltura ?

Que era cordato com todos que se aproximassem sem distinção de classe ?

Foi muito difícil ficar indiferente .

O impacto era grande .

Na Índia , todos lhe pediriam uma benção , como Monge Renunciante , Sadu Baba que bebeu da Fonte !

Em Varanasi se banharia no Ganges no ritual do sacrifício matinal , e em Puna seria recebido por Osho com grande pompa !

Se andasse pelas montanhas do Himalaia dormiria nas cavernas dos santos , e todos lhe ofereceriam comida para seu sustento .

E se chegasse na Terra Prometida de Shambalah o seu feito seria cantado em Odes Celestiais !

Mas aqui no Capão , nesta Terra que nos acolheu , de mente aberta e coração sincero , os seus filhos de tribos diversas não o reconheceram …

Fui a ele instintivamente , que era um ímã incandescente …

Perguntei-me :

Será que o consideram louco ?
Será que é um incômodo ou uma afronta aos princípios andar desnudo por aí ?

A medida que me aproximava a vibração aumentava , porque sua imagem me impressionava.

Havia luz e os raios emergiam do coração banhando o invisível com sua profundissima gratidão… e eu me perguntei porque ele sorria e por qual motivo ele o fazia ?

E veio vindo como uma onda indivisível e foi inundando tudo em volta com a energia que emanava , e eu me lembrei da pureza das crianças e do abraço terna de minha mãe…

Fui tomado por um sentimento de êxtase que poucas vezes experimentara…

Era a presença de Baba Visionário liberto das amarras , era o Mestre e o Discípulo na grande batalha do Baghava-Gita , Jivan Mukta vencedor da morte que vagava pela eternidade em diferentes corpos .

Era o Velho Satya de Bangalore que atendia em seu hospital os mais pobres …

E quando fiquei a sua frente era ele somente e mais ninguém!

Me deu um abraço que eu recebi como um prêmio , nestes tempos difíceis em que as pessoas não se tocam .

E era o vento que soprava amiúde em minhas têmporas .
Era o orvalho que molhava meus pés , e a Bruma que encobria a terra inteira…

Era Baba etéreo em seu cavalo de nuvens atravessando o deserto .

Seu sorriso dirimiu as minhas dúvidas , e a fé que me faltava em sua figura se fortaleceu !

Tive certeza que a vida é um Mistério e quem somos nós para julgar o outro só por ele ser diferente ou não se adequar aos padrões vigentes ?

Trocamos em inglês umas palavras e ele me disse que me notara .
E eu não duvidei pois senti o mesmo naquele Domingo de Novembro !

Baba estava presente em cada passo que dera a seu encontro !

E isto para mim é um conforto e um alento !

Baba liberto Peregrino !

Pelos Campos do Senhor Tempo a semear as boas sementes !

Baba eu te agradeço !

Axé!

Flavio Fucs
Flavio Fucs
"Poeta sou cumpro meu Fado . Como o dum santo ou dum louco . Só posso dar demais ou muito pouco . Que é tudo quando tenho ." José Régio
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1 COMENTÁRIO

  1. Muitíssimo obrigado por compartilhar suas reflexões de clarividente que nos ajudam a enxergar além dos nossos condicionados sentidos e a maior parte das vezes entorpecidos com a tagarela da nossa mente.

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