Liderado pelo médico-veterinário Rodrigo Mendes Carvalho Martinez (CRMV-BA 5659), o projeto Vet Nômade pretende realizar ao menos 50 castrações no Vale do Capão no final de janeiro deste ano. A ação é embasada na Lei Federal número 13.426/17 que regulamenta a castração cirúrgica como uma forma eficiente de controle populacional dos animais domésticos. A medicina coletiva será realizada por médico-veterinário Rodrigo Mendes e equipe dentro de um “castramóvel” e foi acionada a pedido da moradora Bárbara Pires que possui dois animais e gostaria de castrá-los. “A gente percebeu que tem muito animal de rua no Capão e se reproduzindo rapidamente, então algo precisa ser feito. A Loba e o Tao são animais que adotamos e que também gostaríamos de castrá-los, então fomos procurar uma solução para isso”, contou Nandí Leiva, companheiro de Bárbara.
Sobre o projeto
O projeto Vet Nômades nasceu em julho de 2018, quando uma conhecida do médico-veterinário Rodrigo Mendes se mudou de São Paulo para a Bahia. Durante a viagem, ela acabou adotando dois animais. Com o passar do tempo, eles começaram a dar crias, chegando a ter 80 filhotes. Sem condições financeiras de castrá-los, a moça pediu ajuda ao médico-veterinário.
Ao saber que a cidade na qual a moça morava não tinha estrutura especializada para a realização de castração, Rodrigo Mendes teve a ideia de criar o chamado castramóvel: um ônibus adaptado e equipado com materiais e aparelhos cirúrgicos para que o procedimento pudesse ser feito em diferentes lugares. Desde então, o projeto visitou mais de 30 municípios e operou mais de 60 mil animais.
Como funciona? Geralmente, o Vet Nômade é acionado por um município ou por protetores independentes. A partir do chamado, Rodrigo Mendes, que mora em São Paulo, escreve um projeto no qual inclui um estudo de custo para conseguir chegar até a região. Isso inclui o diesel do ônibus usado como “castramóvel”, medicamentos e equipe especializada que vai junto. Quando o Vet Nômade parte para a estrada, já possui um roteiro montado para diluir custos atendendo vários municípios vizinhos do local que fez o chamado.
Há o pedido do pagamento adiantado das castrações e, de acordo com o médico-veterinário, isso é feito justamente para subsidiar o deslocamento até o destino final e também garantir que o volume de animais atendidos aconteça como o planejado. “Tudo envolve pedidos de medicação, material, tempo dedicado, equipe, estrutura móvel, diesel para chegar até a cidade. Por isso, a sustentabilidade do projeto depende da organização prévia da comunidade”, contou o médico-veterinário. “Os municípios precisam começar a internalizar a castração como método em auxílio à saúde pública para melhorar a saúde única (a saúde do meio ambiente e das pessoas) por meio da medicina do coletivo, os chamados mutirões”, afirmou.
O Vet Nômade já operou em parceria com algumas universidades da Bahia como a Universidade Estadual Do Sudoeste Da Bahia (UESB), em Tapetinga. O projeto já atendeu também Belmonte, Mairi, Salvador, Porto Seguro, Canavieiras, Maragojipe, Cruz das Almas, Itabuna, algumas cidades em Pernambuco e até já participou de um mutirão internacional de animais em situação de rua no México em uma parceria realizada com Jeff Young, do Animal Planet.
Acidentes de trânsito no Capão
Quem é morador do Vale do Capão já deve ter visto a cena: cachorros soltos correndo atrás de carros, motos e bicicletas. Segundo o posto de saúde (UFS Capão), há ao menos um acidente de trânsito por semana no Vale do Capão causado por algum animal que correu atrás de carro ou moto.
“Semana passada, tivemos dois acidentes. Nesta semana já tivemos um. E os acidentes aumentam na alta temporada, quando o trânsito aumenta”, contou uma funcionária do postinho que preferiu não se identificar. Amanda Oliveira, moradora do Capão e condutora de visitantes, contou que já passou por duas situações complicadas. “Eu, como vários outros moradores, já fui perseguida por cachorro enquanto dirigia minha moto. Uma vez, recentemente, fui perseguida, acabei me desequilibrando e virando a moto”, relatou. “E um cachorro já correu atrás do meu carro, mordeu e descolou o párachoque”.
Segundo Rodrigo Mendes, “quando a questão do ataque for estresse hormonal, isso é resolvido com a castração”. Após castrados, a maioria dos animais tende a baixar a ansiedade; fugas diminuem e os ataques também tendem a ser reduzidos.
Castração ajuda a diminuir doenças e desafogar o SUS
De acordo com o posto de saúde (UFS Capão), há uma média de 10 casos de Leishmaniose no Vale do Capão por ano. Atualmente, há 2.704 pessoas cadastradas no sistema único de saúde local, ou seja: a média de Leishmaniose é alta se comparada ao número de habitantes.
“A cada um real investido em controle populacional de animais domésticos, os cofres públicos economizam 27 reais de gastos para atender a população que se envolve com acidentes, mordeduras, protocolos de raiva, micoses, sarnas, Leishmaniose e doença de Chagas”, afirma Rodrigo Mendes. Ao diminuir a população de animais domésticos, diminuiremos os reservatórios dessas doenças, defende o médico-veterinário.
Animais domésticos versus fauna silvestre
Você sabia que, em um período de 10 anos, um casal de cães pode gerar, entre seus descendentes, 80 milhões de animais? Isso contando com a média de dois a oito filhotes por cria. Em seis anos, um casal de gatos gera 420 mil gatos novos. Esses dados foram fornecidos pelo projeto Vet Nômade.
Rodrigo Mendes, inclusive, já realizou o projeto de castração na Chapada dos Veadeiros, que, tal como a Chapada Diamantina, sofre com um problema sério: animais domésticos atacando os animais silvestres. Isso acontece porque o aumento desenfreado da população doméstica acaba gerando invasão das áreas de preservação ambiental. Devido a escassez de alimento, pois geralmente esses animais são abandonados, eles são estimulados ao instinto de caça. Assim, eles acabam capturando animais silvestres, muitos em extinção – além de levar doenças a eles, aumentando ainda mais o risco de extinção dos mesmos.
Como participar do projeto Vet Nômade no Vale do Capão?
Para castrar seu animal, mande um WhatsApp para +55 16 99724-7470. Este número é de Nandí Leiva, companheiro de Bárbara, que se encarregou de ajudar na logística do projeto. Ele informa o valor e o Pix para reservar a vaga. Atualmente, um dia inteiro de castração já foi confirmado e reservado. O segundo dia de procedimento está em análise e acontecerá caso mais animais forem inscritos.
Contato para castração: +55 16 99724-7470 (Nandi Arapy)
Texto escrito pela jornalista Laura Moreira Sliva, e revisado pelo jornalista Aurélio Nunes.