O Vale do Capão, quando cheguei aqui era bem diferente do que vemos agora e aos poucos foi mudando, transformando-se num resumo do mundo com sua sociedade híbrida (preste atenção e verá que Capão e New York são iguaizinhos).
Mas muito ficou, entre os cacos do passado e certas velhas amizades são balizas na minha relação com este lugar. Pessoas, pessoas, sim, gente da melhor espécie, sem a perfeição dos sonhos infantis, mas com a grandeza de uma realidade dura e bondosa!
Tem pessoas aqui que quero sempre ver, inda que de relance, pois me alegra o coração. Araci com seu jeito tão centrado, Geu, Lili – ali da quitanda – e Bibia sua esposa, Gilsinho e Dalva, Beli com aquele jeitinho de falar quase cantado que dá vontade de só perguntar não pela resposta, mas pela sonoridade suave… Ditinha, Maria – uma das tantas – assim como Santinho, Marilza, Nice e Edilson, Josemar, Neidinha e Robertinho, Si, Landinha com seu sorriso que sempre aberto ilumina tudo ao redor, ainda mais que a sobrancelha cai nas extremidades quando ri; lembrando que toda essa gente ainda tem as famílias para o meu deleite. Disse alguns, poucos, pouquíssimos… Fosse listar todos, vixe! Não ia ser um artigo, a coisa seria pra muito tempo!
Isso sem contar aqueles que se foram. O velho Anísio, Seu Nozinho – pai de Marilza – e Genésio, e S. Joãozinho, e Dôzinho, e D. Marica… melhor parar por aqui pra não chorar.
Acho que vou nos próximos dias falar um algo de parte dessa turma, principalmente daqueles que se foram, embora sinta que aqueles que só agora conhecem o Vale do Capão vão ficar com uma certa inveja de não tê-los visto, ouvido, partilhado com eles uma vida, como disse antes, dura e bondosa!
Nesses dias tem chovido cântaros no Capão, a lama virou parte de tudo e gente, motos, bicicletas e carros disputam pra ver quem escorrega mais. Lembra quando aqui cheguei, quando até galinha escorregava. Uma vez caminhava no escuro com extremo cuidado. Aí vi uma mancha clara, pensei se tratar de um lugar menos empapado e pulei pra lá. Escorreguei com tanto sucesso (pra o escorregão), que não caí de bunda não, caí com as costas; a água enlameada se espalhou por todo lado e voltou, senti ela subindo ao meu redor e logo estava quase submerso. Foi tão ridículo que cai na gargalhada ali no meio do breu da noite sem estrelas. Com dificuldade cheguei em casa feliz por nada e cansado de cair várias vezes.
Quando aqui cheguei num finalzinho de dezembro, começou a chover e só parou 15 dias depois. Fiquei abestalhado de ver tanta água, tanta cachoeira e minhas crianças se embebedando de lambuzar-se na lama, espanando água e banhando-se no riacho. Foi um tempo duro e… bondoso.
Hoje segue o vale com seu tempo duro e bondoso!
Grato de coração!