sábado, 27 julho, 2024

Uma terrível doença

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Uma terrível doença

Recentemente aqui no Vale do Capão aconteceu um fato chocante: atearam fogo num ônibus escolar.  Diversos moradores me procuraram para conversar, ou, dito melhor, desabafar do susto, do estado de estupor em que ficaram – aliás, eu também fiquei assim, pois quem esperaria que isso ocorresse neste lugar tão distantes das agruras das grandes cidades?

Mas aconteceu e acredito que não se trata de uma coisa a ser esquecida, como muitas vezes fazemos com as situações incômodas. Incomodou-me sobremaneira, e a muitos, senão a todos. Em meu coração pensei nos pais desses jovens os quais devem ter ficado em estado de choque, pensei neles, nos autores…

Como devo abordar esta questão? É verdade que estamos vivendo tempos enfermiços. De há muito está claro que a nossa sociedade é enferma e enfermante. Precisamos urgentemente dar uma guinada em nossos passos, pois há grave risco de autodestruição, na via do desequilíbrio ecológico que nós mesmos estamos provocando ou, pelo menos, acentuando. E me parece que atitudes como esta refletem realmente a doença social generalizada, para a qual estamos (enquanto humanidade) cegos.

Grito em meu coração: Nos perdemos, estamos perdidos! Confirma-me essa constatação, as notícias da mídia, a proliferação de fake News, os sites perversos e insinuantes que assaltam tantos jovens (e mesmo adultos), a proliferação de pseudonecessidades nas redes sociais… e, agora esta notícia aqui, na minha vizinhança.

Facilmente poder-se-ia pensar que estou desculpando os autores como veículos inconscientes de um mal social – e para mim, essas palavras têm muito, senão tudo, de verdade. Porém, quero que fique claro que eles devem ser chamados à responsabilidade quanto a seu ato, pois isso é educativo, para eles, para os demais jovens e para o nosso grupo social…

O Mundo e o mundo humano estão sofrendo e a meu ver devemos ter a coragem de tocar as feridas para saná-las. Esta é uma ferida…

Não sei o que fazer, é tão mais fácil tratar uma pessoa que me busca com gripe, doença de Hashimoto ou reto colite autoimune. Sei que existem doenças terríveis, como as duas últimas, porém ainda assim penso ser mais fácil prover cuidados para elas do que para a doença que grassa na sociedade que perdeu a intimidade com a natureza (mesmo vivendo junto a ela) e consigo mesma (tanto enquanto individualidade como quanto coletividade).

Desnaturamo-nos a tal ponto que lamentavelmente já esquecemos o ser! Dessacralizamos as relações, a vida, a natureza, o respeito… Repito: é um mal geral, mesmo que no processo de tratamento desta praga tenhamos que cuidar amorosamente e decididamente daqueles que manifestam mais intensa e dolorosamente a tristeza do sentimento de não pertencer ao bem comum.

Fecho este triste texto solidarizando-me com os pais e as mães que passaram e estão vivendo esta dor.

Áureo Augusto
Áureo Augusto
(Foto de Mariane Riani) AUREO AUGUSTO Caribé de Azevedo, soteropolitano, nascido em jan/1953, é médico, artista plástico e escritor. Escreve e dá cursos e palestras sobre medicina, história, filosofia, autoconhecimento, política, crônicas, contos e poemas. Reside e trabalha no Vale do Capão, Palmeiras-Ba, onde atua em clínica particular. Na Unidade de Saúde da Família local viveu a que considera sua mais bela experiência profissional, em um trabalho com atividades educativas, psicossomática, terapêuticas naturais, com foco na saúde e na felicidade. • Título de cidadão benemérito de Palmeiras concedido pela Câmara de Vereadores (Resolução n° 41 de 26/9/97). • Homenageado como Pioneiro nas Práticas Integrativas e Complementares no I Encontro Nordestino de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (UNIVASF, UFBa, UNEB, UFRN, UPE, UFPE, UFPB, UFCe, FA-SA), Juazeiro-Ba, 2 de junho de 2013. • Comendador da Ordem do Mérito Médico do Brasil, concedido pelo Ministério da Saúde (2017).
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1 COMENTÁRIO

  1. Nossa Dr Aureo! Muito obrigada por compartilhar! Senti igualmente. Sou mãe, filha, e imagino o quanto deve está sendo difícil! Mas acredito que não podemos perder a esperança nem um só dia! Te abraço,

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