quinta-feira, 25 abril, 2024

A cidade veio pro Vale

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A cidade veio pro Vale

Uma coisa que temos (os moradores daqui) notado é que mais gente vem e veio morar por aqui e chama a atenção o fato de que a pandemia do coronavírus acentuou a imigração. Quando da debacle do garimpo de diamantes e da erradicação dos cafezais o povo local emigrou, mas agora vemos o movimento contrário com muitos retornando ao vale.

Conversava sobre como a cidade acabou chegando por aqui, trazendo mudanças físicas e novos modos de pensar que implicam em necessidades de adaptação de parte a parte.

O Vale do Capão representa para todos, visitantes ou habitantes, uma experiência de imersão acentuada na natureza, queiramos ou não. A chuva pode ser tão forte e se demora apreciando o lugar de tal forma que um barranco de rio que hoje aqui estava, durante a noite se dissolveu e quem marcou de sair cedo a Palmeiras, terá que esperar as águas baixarem. Aqui não tem uma coisa como um shopping center, lugar em que as pessoas podem ficar “protegidas” das intempéries, ou seja, ao abrigo de sol, chuva ou vento – essas coisas que nos abençoam com a saúde.

Comentava sobre isso quando Moniquinha sugeriu algo que me tocou fundo.

Antes devo dizer que Moniquinha (@monicamajida.guia) é uma pessoa bastante conhecida de todos aqueles que aqui nasceram ou para aqui afluíram. Ela é guia e tem um sorriso permanente como se tivesse um encurtamento do músculo Risorius de Santorini, um dos principais envolvidos na maravilha que é o riso. Ela é uma das pessoas que nos ensinam que o ditado está errado e na verdade o pouco siso que caracteriza a ação humana (principalmente os políticos em geral) deve-se justamente ao pouco riso. Mas naquele então disse ela algo assim:

   – Desenvoltura! As pessoas na cidade grande estão cheias de envolturas, roupas, sapatos, automóveis etc. envoltos em uma proteção. Precisam deixar um pouco tanta envoltura, para serem mais saudáveis. Foi algo assim que disse e isso foi uma iluminação para mim.

É triste pensar que mesmo aqui muitos já não estão tão ligados à natureza. Tantos veem para o vale atraídos pela sua beleza, mas repetem o mesmo jeito de viver de quando estavam lá no outro mundo do asfalto e do concreto.

Nada contra os avanços que nos trazem à tecnologia, porém não podemos pautar nossa vida pelo celular e não é lá muito legal que, como nas grandes cidades, haja aqui no Capão mais espaço para automóveis do que para gente.

Nas cidades árvores são derrubadas para a passagem dos meios de transporte… fico olhando e pensando, cá comigo, se não seria possível manter a árvore sem impedir a passagem do carro. Ou, incluir no shopping as belas árvores que o adornariam de dentro. Mas, nós os seres humanos perdemos muito da nossa conexão com a Vida. E para quem apenas vive a própria vida sem perceber a Vida, uma árvore pode ser até pitoresca, nada mais. Sem perceber a Vida que ela representa, derruba-a apoiado em argumentos questionáveis.

Não nota que está aos poucos perdendo saúde física e mental. Diminui-se, porque somos grandes quando somos o Todo no secreto de nossos corações.

Grato, Moniquinha, por me ensinar!

Áureo Augusto
Áureo Augusto
(Foto de Mariane Riani) AUREO AUGUSTO Caribé de Azevedo, soteropolitano, nascido em jan/1953, é médico, artista plástico e escritor. Escreve e dá cursos e palestras sobre medicina, história, filosofia, autoconhecimento, política, crônicas, contos e poemas. Reside e trabalha no Vale do Capão, Palmeiras-Ba, onde atua em clínica particular. Na Unidade de Saúde da Família local viveu a que considera sua mais bela experiência profissional, em um trabalho com atividades educativas, psicossomática, terapêuticas naturais, com foco na saúde e na felicidade. • Título de cidadão benemérito de Palmeiras concedido pela Câmara de Vereadores (Resolução n° 41 de 26/9/97). • Homenageado como Pioneiro nas Práticas Integrativas e Complementares no I Encontro Nordestino de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (UNIVASF, UFBa, UNEB, UFRN, UPE, UFPE, UFPB, UFCe, FA-SA), Juazeiro-Ba, 2 de junho de 2013. • Comendador da Ordem do Mérito Médico do Brasil, concedido pelo Ministério da Saúde (2017).
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