sábado, 21 dezembro, 2024

Biu, o sanfoneiro

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Biu, o sanfoneiro

Uma das minhas filhas, Catita, fez 15 anos e queria que tivesse festa com valsa e tudo na hora de dançar comigo no meio da meia-noite.

Procurei Biu pra conversar sobre isso. Um sanfoneiro de velha tradição, destes que quando tomava o fole fazia vir aquela força “debaixo do barro do chão” como diz a música de Luís Gonzaga e Humberto Teixeira. Conversei sobre o forró e sobre a valsa e ele não se fez de rogado, me olhou nos olhos e disse que na hora do baile ia estar tudo dentro dos conformes. Fiquei feliz e perguntei quanto me cobraria, ao que me respondeu “como cobrar de você, Áureo? Consiga só umas cervejas para os músicos”, e foi uma festa das mais lindas que aconteceu no prédio do Rufino, com o povo feliz dançando sendo que na meia noite valsei com minha filha muito feliz com a alegria dela.

Biu era estrela, devo dizer, e tinha razão de sê-lo, pois tinha o dom. Ia eu pro forró na rua, a quermesse do sábado de 15 em 15, dançava sentindo a música vibrar o som da terra no ritmo do xaxado. Mas também gostava de assistir o povo dançar e mais ainda, apreciar os músicos tocando como num transe lúdico-espiritual. Tinha uma coisa de estado alterado de consciência sem haver necessidade de nada mais que aquela sanfona poderosa, triângulo e zabumba.

Não esqueço de Biu e do seu forró! Admiro-o assim como admiro todos os músicos, palhaços e cozinheiros que nos ajudam a sorrir, contemplar, mexer o corpo, viver o coração. No livro “O Hobbit” de J. R. R. Tolkien, há um trecho em que Thorin, cognominado “Escudo de Carvalho”, filho de Thrain, filho de Thror, Senhor de Erebor, Rei sob a Montanha Solitária, diz:

 – Se mais de nós dessem mais valor a comida, bebida e música do que a tesouros, o mundo seria mais alegre.

É isso e nada mais. Meus respeitos ao grande Biu, sanfoneiro dos melhores!

Áureo Augusto
Áureo Augusto
(Foto de Mariane Riani) AUREO AUGUSTO Caribé de Azevedo, soteropolitano, nascido em jan/1953, é médico, artista plástico e escritor. Escreve e dá cursos e palestras sobre medicina, história, filosofia, autoconhecimento, política, crônicas, contos e poemas. Reside e trabalha no Vale do Capão, Palmeiras-Ba, onde atua em clínica particular. Na Unidade de Saúde da Família local viveu a que considera sua mais bela experiência profissional, em um trabalho com atividades educativas, psicossomática, terapêuticas naturais, com foco na saúde e na felicidade. • Título de cidadão benemérito de Palmeiras concedido pela Câmara de Vereadores (Resolução n° 41 de 26/9/97). • Homenageado como Pioneiro nas Práticas Integrativas e Complementares no I Encontro Nordestino de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (UNIVASF, UFBa, UNEB, UFRN, UPE, UFPE, UFPB, UFCe, FA-SA), Juazeiro-Ba, 2 de junho de 2013. • Comendador da Ordem do Mérito Médico do Brasil, concedido pelo Ministério da Saúde (2017).
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