Uma das minhas filhas, Catita, fez 15 anos e queria que tivesse festa com valsa e tudo na hora de dançar comigo no meio da meia-noite.
Procurei Biu pra conversar sobre isso. Um sanfoneiro de velha tradição, destes que quando tomava o fole fazia vir aquela força “debaixo do barro do chão” como diz a música de Luís Gonzaga e Humberto Teixeira. Conversei sobre o forró e sobre a valsa e ele não se fez de rogado, me olhou nos olhos e disse que na hora do baile ia estar tudo dentro dos conformes. Fiquei feliz e perguntei quanto me cobraria, ao que me respondeu “como cobrar de você, Áureo? Consiga só umas cervejas para os músicos”, e foi uma festa das mais lindas que aconteceu no prédio do Rufino, com o povo feliz dançando sendo que na meia noite valsei com minha filha muito feliz com a alegria dela.
Biu era estrela, devo dizer, e tinha razão de sê-lo, pois tinha o dom. Ia eu pro forró na rua, a quermesse do sábado de 15 em 15, dançava sentindo a música vibrar o som da terra no ritmo do xaxado. Mas também gostava de assistir o povo dançar e mais ainda, apreciar os músicos tocando como num transe lúdico-espiritual. Tinha uma coisa de estado alterado de consciência sem haver necessidade de nada mais que aquela sanfona poderosa, triângulo e zabumba.
Não esqueço de Biu e do seu forró! Admiro-o assim como admiro todos os músicos, palhaços e cozinheiros que nos ajudam a sorrir, contemplar, mexer o corpo, viver o coração. No livro “O Hobbit” de J. R. R. Tolkien, há um trecho em que Thorin, cognominado “Escudo de Carvalho”, filho de Thrain, filho de Thror, Senhor de Erebor, Rei sob a Montanha Solitária, diz:
– Se mais de nós dessem mais valor a comida, bebida e música do que a tesouros, o mundo seria mais alegre.
É isso e nada mais. Meus respeitos ao grande Biu, sanfoneiro dos melhores!