Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. A Prefeitura de Palmeiras e a Associação dos Comerciantes do Vale do Capão (Acomtuv) contornaram a divisão criada entre moradores, frequentadores e trabalhadores do Vale do Capão sobre qual o melhor modelo de pavimentação para a Estrada que liga o povoado à sede do município de Palmeiras e conseguiram chegar a um consenso: a estrada terá pavimentação mista, com trechos de asfalto e outros de pedra, que pode ser paralelepípedo ou piso intertravado.
O Portal do Vale quer saber: você é contra ou a favor o asfalto?
Além da pavimentação mista, ficou decidido que o projeto não contemplará apenas os 21km de estrada entre Palmeiras e o Capão, mas também 8km adicionais de calçamento na via que liga a Vila ao Bomba e do trecho de entrada ao povoado de Conceição dos Gatos.
Esta foi a deliberação tomada por um grupo de 80 pessoas reunidas na tarde desta terça-feira, 03, no anfiteatro da Pousada do Capão. O encontro também resultou na formação de uma comissão formada por oito representantes de coletivos locais que integrarão a comitiva do prefeito Ricardo Guimarães em reunião a ser realizada na Secretaria Estadual de Infraestrutura, onde será gestado o projeto da estrada. A comissão foi uma das exigências feitas pelo secretário Marcus Cavalcanti, pelo senador Otto Alencar e pela deputada estadual Ivana Bastos, para continuar apoiando a realização da obra.
Irão formar a comissão o moveleiro Danillo Rocha, o engenheiro Samuel Azevedo, a arquiteta Roseane, o médico Áureo Augusto, e o comerciante Gilsinho, presidente da Associação de Pais, Educadores e Agricultores do Vale do Capão (Apeaca).*
Segundo Ricardo (foto), o projeto de pavimentação da Estrada do Vale do Capão estava ameaçado por causa da resistência pública de boa parte da população local ao asfalto. “Lá na Seinfra eles foram claros e taxativos, tem que sair uma comissão daqui com a resposta”, declarou o prefeito. “Estamos buscando a unidade, vamos marchar juntos, se a gente ficar nessa discussão não vamos conseguir, a gente tem que correr pra entrar no bojo dos 100km oferecidos pelo governador”, justificou, referindo-se à promessa feita por Rui Costa para os primeiros prefeitos filiados ao Consórcio Chapada Forte que apresentassem projeto executivo pronto. Ricardo confirmou que independentemente do pavimento escolhido, será cobrada uma taxa de preservação ambiental no portal construído no Pau Ferro. “Moradores não pagarão, apenas os visitantes”, garantiu.
“O Vale do Capão tem força política, se a gente convergir em qualquer ideia a gente consegue aprovar o projeto que a gente quiser, o Capão é um dos lugares mais procurados por turistas e a Prefeitura de Palmeiras não consegue dar conta dele sozinha, por isso o Governo do Estado tem a obrigação de nos ajudar”, disse o presidente da Acomtuv e anfitrião do encontro, Emanuel Requião.
DEBATE – O projeto incialmente defendido pela Acomtuv previa asfalto entre Palmeiras e o povoado de Rio Grande, pedras nas ladeiras até o Capão entremeadas por trechos de cascalho nas partes planas. E foi logo contestado numa das primeiras falas fraqueadas à plateia. “Se for asfalto ótimo, se for a proposta de vocês, infinitamente melhor com o restante de paralelo, mas eu peço: nenhum centímetro de cascalho, é péssimo ecologicamente e a poeira que ele gera enche o posto de saúde de crianças com problemas respiratórios”, declarou o médico Áureo Augusto (foto).
A fala do ex-parteiro também ajudou a quebrar a divisão clássica asfalto x pedra, que vigorava até então, uma vez que, anteriormente, Áureo já tinha se manifestado nas redes sociais em favor do asfalto.
“Essa polêmica vai acabar prejudicando a gente, temos que ser menos exigentes ou a gente vai acabar ficando sem nada”, pontuou o comerciante Medinho.
“Pode fazer o calçamento que for, não vai aguentar o peso dos caminhões. Quem não quiser o asfalto, é só pintar o asfalto de verde, por mim não tem problema”, ironizou Dê, da Borracharia.
Para a arquiteta Aruane, o imediatismo pode comprometer o futuro do Vale. “Me aposentei precocemente porque cansei de ver a degradação da paisagem acontecer em todos os projetos, principalmente os do poder público. A gente não tem planejamento urbano no Brasil, o controle da paisagem não é visto como algo que importa, só que importa, e muito, a paisagem é um atrativo, é um patrimônio, é uma questão ambiental e econômica. Quem vê aquela ponte de concreto no Rio Grande sabe que ali não houve nenhuma preocupação com a paisagem, não teve projeto. O que o Capão tem de melhor a oferecer é a paisagem se for destruída, o Capão vai ter um problema mais sério do que o da estrada atual”, disse.
“Porque não contemplar o caminho do meio, porque tem que ser uma coisa ou outra? Qual a garantia de que teremos um asfalto de boa qualidade ou um asfalto igual àquela peneira que foi o da ligação entre Palmeiras e a BR-242 durante décadas?”, comparou Robério, dono da pousada Lendas do Capão. “A gente tem que garantir a viabilidade desse desenho de uma forma mista, senão a gente vai continuar sem nada, igual a ficamos quando o governo Wagner ofereceu um projeto de saneamento básico e os donos da água que são os nativos e os que não queriam água morta da Embasa que são os alternativos não chegaram a um acordo. Vamos perder de novo?”, questionou.
“Os nativos tiram o recurso daqui, são a classe menos favorecida. Eu não era a favor do asfalto, mas hoje não tem mais condição, tá muito caro de se viver, 500 reais não compra nada. Vocês vieram pro paraíso, mas nós não, nós vivemos no Capão”, disse Danillo Rocha.
“Temos que superar essa dicotomia entre nativos e alternativos, essa é a realidade, vamos ter que trabalhar isso juntos, acho que a gente deve encontrar um ponto no meio de associar essas duas concepções, a estrada é uma necessidade real de mudar, mas também temos que ter a preocupação para o que pode ocasionar a forma como ela for construída”, resumiu Jorge Seixas. “Nós precisamos fazer melhor que aqueles que fizeram estrada e destruíram os locais onde viviam. Como está não dá, mas temos de construir algo definitivo temos que trabalhar em conjunto, não cabe mais em pleno ano 2021 a gente ficar nessa discussão de nativos e alternativos”, completou.
*Versão publicada anteriormente constava o nome de Jorge Seixas na comissão. A matéria já foi corrigida.
Aqui deveria ser seriamente levado em consideração a construção de uma estrada parque.
Duravel, respiravel e absorvente, pensada para nossa realidade, levando em conta as variações climaticas que temos aqui.
Não adianta mais tapar buracos, ou fazer um asfalto fino, nem mesmo um paralelepípedo que saia rolando ladeira a baixo com as chuvas fortes.
Espero que a comunidade decida o que é bom para todos. Não só para os comerciantes, os nativos, ou auternativos, todos desejam circular sem poeira, todos desejam o bens estar e a saúde acima de tudo.
Como disse Jorge Seixas, não existe diferença entre quem nasceu no Vale e quem o escolheu para viver. Sou da segunda definição e aposto no bem estar de cada um dos moradores deste lugar lindo e maravilhoso, seja nativo, seja alternativo.
Vamos buscar a melhor solução para todos. Asfalto é bom? Sim, máscaras sérios problemas de degradação ambiental. Piso de paralepipedo é uma excelente opção, mas podemos fazer uma estrada mista, como foi dito, usando o asfalto nos trechos de piores condições de tráfego. No restante, usamos as pedras.
Salve a todos!!!
Hoje sou favor do asfalto, como a estra está vem causando um impacto ambiental muito grande devido a reposição de material que vem sendo posto nesta estra e sem falar da poeira que vem causando transtorno na saúde dos moradores
A estrada do capão poderá continuar a ser seletiva com o seu leito rústico porém viável para a locomoção.
Sim ao progresso