A chuva cai lerda, nada de vento, vertical.
Logo, horizontal, o rio vai transbordar e como grávido irá sair dos limites, quiçá passando por cima das pontes que é uma das alegrias de assistir aqui no Vale do Capão.
A água nos ensina a fluidez neste mundo humanos no qual decidimos e queremos, fazemos e acreditamos que nossa mente sabe tudo, que sabemos tudo, que podemos intervir em tudo na medida em que somos inteligentes.
Enquanto isso, a chuva cai… Seguimos como se nada houvesse a aprender dos demais seres. No máximo podemos tê-los como objetos de estudo ou… de nosso amor!
Às vezes paro nas coisas dos dias e olho para mim e se faço isso com cuidado (e não se pode dizer que seja sempre cuidadoso) noto que olhar para mim é olhar para os demais – que nunca é demais – porque, por alguma arte que não sei direito o que é, somos parte de algo que é parte de nós.
O rio enche espalhando sua horizontalidade para além das margens, nós devemos ir para além das margens. Olhar a chuva, senti-la no rosto e abrir-se para ampliar o horizonte.
Parece que estou divagando demais!
Mas o fato é que, cuidando para se afastar das fantasias, o fato é que todos nós, os seres humanos, somos convidados a olhar as outras coisas como algo mais do que algo lá. Não há como continuarmos acreditando que um vírus é um azar, ou uma maldade chinesa, ou invenção da mídia… Crer que a queda que sofri é apenas azar, ou cansaço, ou um complô para me prejudicar. Acredite, todas as coisas estão inapelavelmente imbricadas e nada é apenas um coisa do tipo azar, ou o que quer imaginemos ou constatemos.
“Apenas” – a palavra não foi posta a toa. É sim algumas coisa, mas também é mais, já que nosso ser inteiro é a água que primeiro encharca a terra pra depois encher o rio. Estamos encharcados de existência, a água existência nos embebe, a água que é vida nos ensopa, empapa. Como os micélios (algo que lembra raízes, mas que é o maior e mais rápido meio de comunicação entre as plantas, não apenas entre os cogumelos), a vida se distribui em todos os lugares sem que necessariamente percebamos.
A comparação com os micélios é bem legal, pois que, eles são como um sistema nervoso unindo toda a vida.
Toda a vida, toda a existência são o fluxo e nós somos o fluxo – repito, sem fantasia – carecemos de reconhecer isso.
Tomara eu consiga, consigamos!
Foi isso que a chuva me trouxe.
Beijos no coração de todos