Dona Anita… Dona Anita era como um floco de algodão, uma nuvem discreta em céu azul.
Falava quase num murmúrio, falava como se estivesse contando um segredo e silenciava longamente.

Todos os anos frequentava sua lapinha. Esta é uma tradição aqui da Chapada Diamantina que não vi em outro lugar (o que não quer dizer que não tenha). O povo criava uma estrutura bastante complexa, rica de detalhes, com bonecas, carrinhos de brinquedo, e muitas outras coisas que acabavam por criar alguma dificuldade para ver o presépio, que era a razão da lapinha.
A casa dela, ali nos Brancos, é linda, com muitas portas, quase um museu do tempo do garimpo. Ainda bem que a família cuida. Ali na sala é onde ela fazia a lapinha.
Todos os anos ela só desmanchava a lapinha dela depois que eu ia lá fotografar. E sentávamos para conversar das coisas de antigamente, bem antigamente, antes do tempo antigo em que cheguei aqui.
Um dia ela contou da escola que frequentara. Salvo engano o professor recebia um dinheirinho de cada família pra alfabetizar as crianças. Então ela mostrou a sua mochila de ir à escola. Era uma caixa de madeira com umas correias. O povo de antigamente tinha que ser muito forte!
Quando penso nela, ocorrem-me imagens de coisas leves: flocos de nuvens, pedaços de algodão, sementes de serralha volitando no ar, anjos… Anjos! Ela era como um anjinho e lá está, hoje, entre eles.
Recebam o meu carinho!
