sábado, 27 julho, 2024

Razão e conflito

Estamos frequentemente divididos em grupos irreconciliáveis, incapazes de sequer ouvir o que o grupo oposto tem a dizer. Todos têm razão. E esse é o problema!

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Razão e conflito

Estamos vivendo momentos difíceis no nosso planetinha e no Brasil, não é diferente. Tal como em outros lugares, estamos frequentemente divididos em grupos irreconciliáveis, incapazes de sequer ouvir o que o grupo oposto tem a dizer. Todos têm razão.

E esse é o problema!

Quando era bem jovem, ainda na adolescência, li um livro que marcou a minha vida e minhas escolhas desde então: “Anatomia da Paz” de Emery Reves.  Neste livro, o autor nos mostra os argumentos dos franceses, dos alemães, dos ingleses sobre suas motivações para ir à monstruosidade que ficou conhecida como Segunda Guerra Mundial. Todos tinham razão por isso a guerra.

Todos estavam com a verdade… e esse é o problema!

Nos ensina Anna Arendt que a pior forma de totalitarismo é o governo da verdade. Sim. Quando um determinado grupo político assume o poder, considerando-se único dono da verdade, todo o que discordar estará cometendo um crime de “lesa verdade”. Afinal a verdade é indiscutível. Mas quem em sã consciência se considera dono da verdade?

Religiões, partidos, grupos políticos, organizações sociais – muitos foram aqueles que se apossaram da verdade sem se dar conta de que esta suposta verdade não passava de opinião, ou seja, de ideologia. Uma ideologia é uma guia, jamais a palavra final (será que há palavra final?).

No fatídico século XX, as pessoas que queriam melhorar a vida dos seres humanos brigavam com palavras e atos – os mais escabrosos, às vezes – porque haviam aprendido que havia 2 grupos, o meu, que estava coberto de razão e o dos inimigos. Assim, a gente de esquerda chamava os outros de porcos chauvinistas enquanto a turma da direita dizia dos esquerdistas que eram criminosos que queriam o fim da pátria, da família etc.

No presente século, me pareceu que havíamos deixado para trás tais dicotomias, mas elas renasceram com força. Continuamos infantilmente acreditando nos contos nos quais havia um mocinho ‘só mocinho’ e um bandido ‘só bandido’.

Não nego que existem pessoas bem ruins, enquanto a maioria de nós somos seres mais voltados para o bem (embora o mal seja parte de todos). Mas continuamos escondendo a nossa sombra para poder, sem querer, vê-la no outro.

Lembro na década de 1970 quando estava na rua lá em Salvador, encontrei um amigo muito querido, bem mais velho do que eu. Ele estava de paletó e gravata pois trabalhava na IBM – e era exigência da empresa – eu usando uma roupa bem hippie. Conversamos animadamente e nos despedimos. Estávamos diante de um restaurante bem frequentado pelos universitários naquela época, o Avalanches. Fui em seguida ao restaurante e lá estavam amigos meus, que logo me questionaram por eu andar aos abraços e conversação animada com um burguês de paletó e gravata. Fiquei chocado, pois tinha amigos de tudo quanto era jeito, desde minha gente do bairro do Uruguai, onde nasci, até o povo rico o bastante para não saber o que era bairro do Uruguai.

Não via nada mais do que amizade! Não contemplava a ideologia, o amor, incluso o amor amizade não conhece ideologias. Por sorte segui com meus amigos e não me filiei a ideologias – o que não me impediu de julgar outras pessoas em outras situações coisa que mais tarde vi como era uma bobagem sem tamanho.

Ninguém tem só um lado em seu corpo. Temos um lado esquerdo e um lado direito, e é isso que nos forma! Escutemos ambos os lados, escutemos ao que está à frente e atrás, em cima e embaixo, ou seja, escutemos com o coração.

Áureo Augusto
Áureo Augusto
(Foto de Mariane Riani) AUREO AUGUSTO Caribé de Azevedo, soteropolitano, nascido em jan/1953, é médico, artista plástico e escritor. Escreve e dá cursos e palestras sobre medicina, história, filosofia, autoconhecimento, política, crônicas, contos e poemas. Reside e trabalha no Vale do Capão, Palmeiras-Ba, onde atua em clínica particular. Na Unidade de Saúde da Família local viveu a que considera sua mais bela experiência profissional, em um trabalho com atividades educativas, psicossomática, terapêuticas naturais, com foco na saúde e na felicidade. • Título de cidadão benemérito de Palmeiras concedido pela Câmara de Vereadores (Resolução n° 41 de 26/9/97). • Homenageado como Pioneiro nas Práticas Integrativas e Complementares no I Encontro Nordestino de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (UNIVASF, UFBa, UNEB, UFRN, UPE, UFPE, UFPB, UFCe, FA-SA), Juazeiro-Ba, 2 de junho de 2013. • Comendador da Ordem do Mérito Médico do Brasil, concedido pelo Ministério da Saúde (2017).
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2 COMENTÁRIOS

  1. Linda reflexão! Simples, mas que justamente por assim ser, se torna tão orgânica. Vamos ouvir com o coração…! O equilíbrio é fundamental em qualquer organismo, não seria diferente com o social…

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